Tecnosinos encerra participação no SXSW 2025

Encerrando a sua participação no festival South by Southwest 2025 (SXSW), Silvio Bitencourt, gestor executivo do Tecnosinos, conta detalhes de sua perspectiva sobre os últimos painéis que assistiu. Importante lembrar que sua visita aos EUA foi por meio de recursos provenientes do apoio da Rede RS Startup por meio da Fapergs.

Abaixo você pode acompanhar os relatos finais do gestor.

SXSW 2025 #24 – Ao assistir à sessão com Björn Bender, CEO e Presidente Executivo da Rail Europe desde 2022, ficou evidente que, apesar do foco no transporte ferroviário de passageiros nos Estados Unidos, as lições apresentadas são amplamente aplicáveis a outros países, incluindo o Brasil. A experiência europeia demonstra que a interconectividade, a inovação tecnológica e um modelo de gestão voltado para o usuário são fatores essenciais para a transformação da mobilidade. Além disso, um dos aspectos mais marcantes da fala de Bender foi a sustentabilidade das ferrovias, tema central para o futuro do transporte global. Bender destacou que os trens são uma alternativa significativamente mais sustentável em comparação com aviões e automóveis, uma vez que emitem menos CO₂ por passageiro e por tonelada de carga transportada. Essa vantagem ambiental reforça a necessidade de políticas públicas e investimentos que priorizem a expansão e modernização das malhas ferroviárias. No Brasil, onde a infraestrutura ferroviária é majoritariamente voltada ao transporte de cargas, há um grande potencial para ampliar o uso desse modal tanto para passageiros quanto para mercadorias, reduzindo a dependência de rodovias e suas altas emissões de carbono.

Outro ponto relevante abordado foi o uso de novas tecnologias para tornar o setor ferroviário mais eficiente e ambientalmente responsável. A inteligência artificial, por exemplo, pode otimizar rotas, reduzir desperdícios e melhorar a gestão energética das composições. Além disso, a eletrificação das ferrovias e a adoção de biocombustíveis são caminhos viáveis para tornar esse modal ainda mais sustentável. A fala de Bender reforçou que a transição para um modelo de transporte mais ecológico depende de um esforço conjunto entre governos, empresas e a sociedade. Assim como os EUA podem aprender com a Europa para fortalecer suas ferrovias, o Brasil também pode se inspirar nessas experiências para desenvolver soluções inovadoras, garantindo que a mobilidade ferroviária desempenhe um papel central em uma economia mais verde e eficiente.

Enquanto isso, em dezembro de 2024, o governo da China inaugurou a maior linha férrea de alta velocidade do mundo, com 2.298 quilômetros de extensão, ligando o norte do país à província de Guangzhou, no sudeste. Os trens da nova linha operam a uma velocidade de 300 quilômetros por hora, reduzindo o tempo total da viagem para apenas oito horas, um avanço significativo em relação às mais de 20 horas anteriormente necessárias para percorrer o mesmo trajeto.

SXSW 2025 #25 – Na sessão intitulada “Farewell, Information Age — Welcome to the Imagination Age!”, assisti uma apresentação envolvente de Helen Todd, uma das pioneiras na interseção entre IA e criatividade. Helen compartilhou sua jornada desde os primórdios da social media, quando cofundou a Sociality Squared, até seu atual projeto, o Creativity Squared, onde explora de forma inovadora como a inteligência artificial pode potencializar o processo criativo. A inovação de Helen foi ainda mais evidente ao apresentar Helen 2.ODD, seu clone digital, um avatar hiper-realista que não só fala 28 idiomas, mas também é capaz de realizar produções de vídeo de forma eficiente, e frequentemente aparece em conferências.

Helen também introduziu a ideia da Era da Imaginação, que, segundo ela, começou em 2023, marcando o fim da Era da Informação. Na Era da Imagem ou Era da Imaginação, o valor econômico passa a ser gerado pela força das ideias e pela criatividade humana, e não mais pela produtividade ou pela quantidade de informações. Helen explicou que a transição entre as eras está ligada à crescente importância da IA e ao papel central que as ideias e a imaginação têm na sociedade moderna. Para ela, a Era da Informação, que teve seu auge nos anos 2000 até 2022, focava na coleta e disseminação de dados, enquanto a Era da Agricultura, que começou cerca de 10.000 anos atrás, se centrava na produção de alimentos e na organização das primeiras sociedades, e a Era Industrial, iniciada no século 18, foi dominada pela mecanização e pela produção em massa.

O ponto alto da sessão foi ver como a IA não só está moldando a criatividade, mas também como Helen está utilizando sua plataforma para promover um futuro mais responsável e centrado no ser humano. Além disso, Helen detalhou sua atuação como cofundadora do CincyAI, a maior comunidade de IA de Ohio, e como sua contribuição para o mundo das artes é significativa, com 10% da receita do Creativity Squared sendo direcionada ao ArtsWave, uma organização que apoia artistas e projetos culturais, com foco especial em vozes negras e latinas. O mais impressionante foi ver como Helen está quebrando barreiras não só como uma líder no marketing digital, mas também como uma defensora da IA ética, e como ela está ajudando a construir uma comunidade que conecta a arte, a tecnologia e as pessoas. A sessão nos leva a refletir sobre o impacto da IA na criatividade humana e a importância de abraçar essas inovações de forma consciente e inclusiva.

SXSW 2025 #26 – A sessão “10 Myths Busted: The Real Impact of AI and Emerging Tech” foi uma verdadeira imersão nas possibilidades da Inteligência Artificial e das tecnologias emergentes no mundo dos negócios, com vários insights apresentados por Sandy Carter, que possui uma carreira distinta, tendo ocupado cargos de liderança como Chief Operations Officer, Chief Product Officer e Chief Sales Officer em grandes empresas como Amazon Web Services e IBM. Ela compartilhou uma visão abrangente sobre como as tecnologias disruptivas estão remodelando as empresas e os mercados.

Durante a apresentação, Sandy desmistificou vários mitos sobre a IA, mas dois deles, especificamente, chamaram a minha atenção, pois são questões frequentemente debatidas e de grande relevância no cenário atual da tecnologia e inovação. O Mito 6, “Dados genéricos serão suficientes”, foi um dos pontos que mais me impactou. Sandy refutou essa ideia com clareza, explicando que dados específicos da empresa são muito mais valiosos para o sucesso de projetos de IA. Ela ressaltou que, para gerar insights significativos e soluções realmente transformadoras, as empresas precisam de dados ricos e contextuais, que atendam às necessidades e particularidades de seu próprio negócio.

Outro mito que me chamou bastante a atenção foi o Mito 3, “A IA substituirá todos os empregos”. Sandy abordou como essa visão é errônea, destacando que a IA não substitui o trabalho humano, mas transforma as dinâmicas de trabalho. Em vez de substituir funções, ela cria uma colaboração entre humanos e IA permitindo que ambos, juntos, alcancem resultados inovadores. Esse é um aspecto fundamental para o futuro do trabalho, no qual a IA potencializa as capacidades humanas, liberando as pessoas para se concentrarem em tarefas mais criativas e estratégicas, enquanto as máquinas lidam com processos mais repetitivos e baseados em dados.

Além de desmistificar esses mitos, Sandy também reforçou a importância de as empresas adotarem uma cultura movida por IA, estimulando a experimentação e o aprendizado contínuo. Ela enfatizou que a chave para o sucesso em projetos de IA está em adotar uma abordagem equilibrada, que envolva tanto a tecnologia quanto a humanidade, para garantir que a IA complemente e potencialize as capacidades humanas, ao invés de substituí-las. Em resumo, a sessão proporcionou uma visão clara e prática sobre os desafios e as oportunidades que a IA oferece, abordando de forma objetiva os mitos que frequentemente cercam essa tecnologia. Sandy destacou a importância de dados específicos e da colaboração entre humanos e máquinas como fatores essenciais para o sucesso nos projetos de IA e para prosperar no futuro digital em constante evolução. Vale buscar seu recém-lançado livro “AI First, Human Always: Embracing a New Mindset for the Era of Superintelligence” e se aprofundar nas ideias de Carter.

SXSW 2025 #27 – O painel Quantum for Good no AI for Good Global Summit em Genebra, que aconteceu em julho de 2025, foi pioneiro, reunindo líderes globais e especialistas que discutiram o potencial das tecnologias quânticas para promover inclusão, sustentabilidade e equidade em todo o mundo. A iniciativa foi um grande sucesso e serviu de inspiração para o painel realizado no SXSW 2025, onde o conceito do Quantum for Good foi levado a um público global mais amplo. O Painel no SXSW 2025 foi um ponto de encontro para inovadores, visionários e especialistas de diferentes campos, e destacou a importância de integrar a tecnologia quântica com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. A abertura foi dada por Kseniia Fontaine, que trouxe à tona a missão da ITU de garantir que todos, especialmente os países em desenvolvimento, possam participar da revolução quântica. Ela enfatizou que o acesso equitativo à tecnologia é crucial para que ninguém fique para trás, e destacou o papel da ITU em conectar iniciativas inovadoras com as necessidades globais.

Frederic Werner teve uma intervenção poderosa sobre o impacto da IA e das tecnologias quânticas no desenvolvimento global. Ele ressaltou a necessidade de unir inovação tecnológica e colaboração global para criar soluções que possam realmente transformar a sociedade e acelerar o progresso em direção aos ODS. Frederic sublinhou que a ética na aplicação dessas tecnologias será determinante para que se alcancem benefícios para todos.

Whurley compartilhou sua visão sobre como a computação quântica pode ser desmistificada e tornada acessível ao público geral. Sua apresentação sobre a importância da padronização das tecnologias quânticas e seu trabalho com a Strangeworks, visando criar uma infraestrutura de conhecimento mais inclusiva, trouxe um tom prático e direto para o painel. Ele também falou sobre seus livros, como Quantum Computing for Dummies, que buscam simplificar a compreensão dessa tecnologia complexa.

Charles Tahan, da Microsoft, fechou o painel com uma análise detalhada sobre como as grandes corporações podem contribuir para tornar as tecnologias quânticas não só mais acessíveis, mas também mais relevantes para a resolução de problemas sociais e ambientais. Ele apresentou as iniciativas da Microsoft no campo da computação quântica, destacando o potencial para transformar áreas como saúde, segurança e meio ambiente.

Este painel no SXSW 2025 foi um momento marcante, reunindo algumas das mentes mais brilhantes na interseção entre tecnologia e desenvolvimento global. Ficou claro que a Quantum for Good é uma iniciativa poderosa que busca garantir que a revolução quântica não seja apenas uma promessa tecnológica, mas uma realidade acessível para todos, em todas as partes do mundo.

SXSW 2025 #28 – A sessão “Beyond AI-Hype: Customer-Centric Tech Strategies” trouxe uma discussão sobre como as grandes empresas estão indo além do hype da inteligência artificial para implementar estratégias tecnológicas centradas no cliente. Com líderes de diferentes setores – aviação, telecomunicações, varejo e consultoria – ficou evidente que a adoção bem-sucedida de IA e outras inovações depende de uma abordagem prática, testada e sempre focada em agregar valor real ao consumidor.

Jason Birnbaum, da United Airlines, abriu a sessão destacando como a tecnologia tem sido um motor de transformação para a companhia aérea. Ele explicou que, mais do que apenas adotar novas ferramentas, a United tem investido na construção de experiências digitais intuitivas e eficientes para seus passageiros. O aplicativo móvel da empresa, amplamente reconhecido por sua usabilidade e personalização, é um exemplo claro disso. Além disso, Jason falou sobre como a distribuição de dispositivos móveis para funcionários da linha de frente melhorou significativamente o atendimento ao cliente e a eficiência operacional. Sua visão de tecnologia vai além da experiência do passageiro: ele enfatizou também o impacto social positivo, mencionando o programa Innovate, que capacita talentos de comunidades sub-representadas para carreiras na área de tecnologia.

Na sequência, Kellyn, Chief Marketing & Growth Officer da AT&T, trouxe a perspectiva do marketing e do crescimento orientado pelo cliente. Ela ressaltou que, embora a IA seja uma ferramenta poderosa, seu verdadeiro valor só é alcançado quando aplicada de forma estratégica para entender melhor os clientes e oferecer experiências personalizadas. Kellyn explicou como a AT&T está usando tecnologia para fortalecer sua relação com os consumidores, aumentar o tempo de vida do cliente e consolidar sua posição premium no mercado. Seu histórico de sucesso em grandes marcas como Hilton e Microsoft ajudou a ilustrar como campanhas inovadoras, baseadas em dados, podem criar conexões autênticas e duradouras com os consumidores.

Steven, da Metis Strategy, trouxe um olhar estratégico e analítico para a conversa. Ele destacou a importância de equilibrar inovação com pragmatismo, garantindo que a adoção de novas tecnologias seja guiada por necessidades reais do negócio e do cliente. Com sua experiência em consultoria para líderes C-suite, Steven ressaltou que a colaboração entre executivos de diferentes áreas é essencial para uma implementação bem-sucedida de IA e outras tecnologias emergentes. Ele também abordou tendências e desafios que as empresas enfrentam ao navegar pelo cenário digital em rápida evolução, reforçando a necessidade de estratégias bem fundamentadas e escaláveis.

Fechando a sessão, Prat Vemana, da Target, compartilhou como a empresa tem usado tecnologia para fortalecer sua competitividade e impulsionar o crescimento. Ele explicou como a transformação digital da Target não se resume apenas à presença online, mas à integração total da experiência física e digital. O desenvolvimento do Target Plus e a otimização dos processos de fulfillment são exemplos de como a empresa tem aplicado IA e automação para atender melhor seus clientes e simplificar suas operações. Com passagens por empresas como Home Depot e Kaiser Permanente, Prat demonstrou que a chave para o sucesso digital está em entender profundamente o comportamento do consumidor e criar soluções que sejam ao mesmo tempo eficientes e intuitivas.

Ao longo da sessão, um ponto comum entre os palestrantes foi a necessidade de um equilíbrio entre inovação e aplicabilidade. Todos concordaram que a IA é uma ferramenta poderosa, mas que seu sucesso depende de uma abordagem humanizada e centrada no cliente. A tecnologia, por si só, não resolve problemas – é preciso entender o contexto, testar, aprender e iterar para garantir que as soluções realmente melhorem a experiência do consumidor e tragam valor para o negócio.

A principal conclusão? O futuro das estratégias tecnológicas não está apenas na adoção de IA, mas sim na forma como ela é usada para tornar a experiência do cliente mais ágil, transparente e personalizada. Ir além do hype significa focar no que realmente importa: resolver problemas reais, construir relações mais fortes com os consumidores e criar impacto positivo e duradouro.

SXSW 2025 #29 – No sétimo dia do SXSW, assisti ao painel “Our AI-Driven World: A Utopian Dream or Dystopian Nightmare?”, uma discussão de alto nível sobre os avanços da inteligência artificial e seus possíveis desafios. A sessão reuniu especialistas renomados: Karim R. Lakhani, professor da Harvard Business School (HBS) e coautor de Competing in the Age of AI, que atuou como mediador; Shikhar Ghosh, também professor da HBS e empreendedor de longa trajetória no setor de tecnologia; e Jen, cientista de dados e especialista em IA do Digital Data Design Institute (D³).

O debate abordou a dualidade da IA: seu potencial transformador para impulsionar progresso e inovação versus os riscos decorrentes da falta de regulamentação e governança. Karim introduziu o tema destacando o papel da IA na reconfiguração dos modelos de negócios e operações empresariais. Segundo ele, quando aplicada de forma responsável, a IA pode não apenas aumentar a eficiência e a produtividade, mas também criar oportunidades econômicas e sociais, ampliando o acesso à saúde, à educação e a soluções sustentáveis.

Shikhar Ghosh, por sua vez, adotou uma perspectiva mais crítica, enfatizando os desafios e as possíveis consequências negativas da IA. Ele argumentou que, sem um arcabouço regulatório robusto, a tecnologia pode aprofundar desigualdades, reforçar vieses algorítmicos e comprometer a segurança digital. Citando exemplos como a disseminação de deepfakes, a automação excessiva que pode levar ao desemprego estrutural e a vulnerabilidade dos sistemas autônomos a ataques cibernéticos, Shikhar alertou para os riscos de um avanço tecnológico não acompanhado por diretrizes éticas e institucionais adequadas.

A cientista de dados Jen complementou o debate trazendo uma abordagem mais técnica e aplicada, ilustrando como a IA pode ser implementada de maneira ética e eficaz. Ela discutiu casos concretos de uso da IA para resolver desafios complexos, como a personalização de serviços financeiros e a otimização de diagnósticos médicos. Além disso, enfatizou a necessidade de mecanismos de transparência e auditoria nos sistemas de IA, reforçando que a regulação não deve ser um obstáculo à inovação, mas sim um meio de garantir seu uso responsável.

O painel gerou reflexões sobre os avanços e desafios da IA, suscitando questões sobre privacidade, segurança, impacto no mercado de trabalho e o papel dos governos na criação de políticas que equilibrem inovação e governança. A discussão reforçou a necessidade de uma abordagem interdisciplinar e colaborativa para moldar o futuro da IA, garantindo que seu desenvolvimento ocorra de maneira ética e sustentável. Em suma, a sessão destacou a importância do debate contínuo sobre a governança da inteligência artificial, reconhecendo tanto seu potencial revolucionário quanto os riscos associados ao seu uso indiscriminado.

A experiência foi intelectualmente gratificante e reafirmou a urgência de um diálogo estruturado entre academia, indústria e formuladores de políticas para direcionar a IA para um futuro que maximize benefícios e mitigue suas ameaças. Vale a pena acessar a obra Competing in the Age of AI, de Marco Iansiti e Karim R. Lakhani, pois oferece uma análise provocativa sobre como organizações centradas em IA estão redefinindo modelos de negócios e operações.

 

 


18 de Março de 2025
Destaque Tecnosinos